segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Arcebispo de São Paulo contraria Papa Francisco


Dom Odilo remove padres de suas paróquias que divergem de sua linha política

O Arcebispo da cidade de São Paulo, Dom Odilo Scherer, promoveu ação no começo de dezembro para trocar os párocos entre seis igrejas da região episcopal do Ipiranga. Não foi dada justificativa para mudança.

Comenta-se, nos bastidores, que já há algum tempo Dom Odilo queria retirar o poder de padres que divergem de sua linha política. O cardeal pertence à ala conservadora da Igreja e parte dos padres alvos da ação é moderada ou progressista. Ele teria ficado frustrado ao perder a sucessão de Bento XVI, conservador, para um bispo moderado como Bergoglio.

O Papa Francisco publicou em novembro o documento “Evangelli Gaudium” onde defende a descentralização do poder do Papa e do poder hierárquico dos bispos. Uma das críticas internas do clero é contra a hierarquia da Igreja.

Comenta-se que com a troca de padres entre as paróquias, o objetivo seria interromper o trabalho de anos nas igrejas dos padres moderados ou progressistas.

O pároco da Igreja Santa Rita de Cássia, Celso Paulo Torres, por exemplo, está há mais de vinte anos na Paróquia. Muitos foram batizados pelos padres e hoje são adultos. O padre da igreja Nossa Senhora de Fátima, João Cícero, ficou sabendo da ação do arcebispo por meio de fiéis que leram a notícia no Facebook do novo padre que vai ser nomeado nesse mês, Wilson Santos da igreja Santa Cristina. Comenta-se que Dom Odilo teria pressa na ação por algum motivo.

Os padres alvos da ação seguiriam a “opção preferencial pelos pobres” defendida pelo papa, contrária a Odilo e próxima a defendida pelo antigo clero brasileiro progressista. Esse foi desarticulado nos anos 80 pela ação do papa João Paulo II e do então prefeito da Congregação da Fé (antiga Inquisição) Bento XVI, por meio também da troca de bispos e padres de suas igrejas.

Os fiéis das paróquias estão indignados pelo motivo da mudança e tristes por poder perder alguém da “família” com quem convivem há anos.

Os paroquianos das igrejas Imaculada Conceição (pároco Benedito de Abreu), Nossa Senhora do Sion (José Geraldo Moura Rodrigues), Santo Afonso (Márcio Manso) e Santa Rita (Celso Paulo Torres) se articulam para impedir as mudanças. O bispo Dom Odilo não responde aos seus e-mails, mensagens no Facebook, telefonemas e outras tentativas de contato.

Fiéis das quatro igrejas se articulam para fazerem abaixo-assinados e também protestos em frente
à Catedral da Sé e da casa de Dom Odilo.

Outro boato é que o conselho presbiteral, que votou pelas trocas, seria composto por padres novos “carreiristas em busca de igrejas com mais status político e econômico”.

Os fiéis das três outras igrejas nas trocas Santa Cândida (pároco Jorge Bernardes), Santa Cristina (Wilson dos Santos) e Nossa Senhora de Fátima (João Cícero) não participam das mobilizações. Os dois primeiros seriam conservadores como Dom Odilo.

Parte dos padres removidos das igrejas também enfrentou o “modelo de pastoral conservador e hierárquico” do antigo bispo auxiliar da região, Dom Tomé, conservador e aliado de Dom Odilo. Dom Tomé foi transferido para a diocese de São José do Rio Preto por ter atingido o tempo limite como bispo auxiliar em São Paulo. Fiéis de lá fizeram recentemente um abaixo-assinado pedindo seu afastamento da região.

Leis da igreja

Ainda de acordo com os artigos 1.740 a 1.752 do Direito Canônico da Igreja, um padre só pode ser removido de sua Paróquia por motivo de escândalos e questões morais, financeiras etc que coloquem em risco “a salvação da alma dos fiéis”.

Demissão na PUC

Dom Odilo demitiu o professor e padre Edson Toneti da PUC-SP que não quis assumir o paroquiado da Imaculada Conceição. O pároco da Nossa Senhora do Sion, José Geraldo, não aceitou também ir para a paróquia e vai ser transferido para a região do Belém. A igreja é associada à universidade e enfrenta problemas como a disputa pelo uso do estacionamento.

Raio-X das trocas de párocos (atualizado em 30/12/13):

Imaculada Conceição: Benedito Vicente de Abreu (próximo de Dom Odilo e vai para a Paróquia Santo Afonso em fevereiro).
Nossa Senhora de Fátima: João Cícero (conservador e vai para Santa Cândida em fevereiro)
Santa Cândida: Jorge Bernardes (conservador e vai para a Santa Rita de Cássia em fevereiro)
Santa Cristina: Uilson dos Santos (conservador que vai para a Nossa Senhora de Fátima em fevereiro)
Santo Rita: Celso Paulo Torres (progressista e vai para Nossa Senhora do Sion em fevereiro)
Santo Afonso: Márcio Manso (moderado que vai para Santa Cristina em fevereiro)
Nossa Senhora do Sion: José Geraldo Rodrigues (progressista e vai ser transferido para região Episcopal Belém, em data indeterminada, por não ter aceitado ir para a Imaculada)



Esse texto é divulgado por fiéis interessados em suspender as mudanças. O Clasp (Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo) apoia a iniciativa. Para o presidente da entidade, Edson Silva, o arcebispo perdeu uma oportunidade de mostrar que está alinhado ao chefe do Vaticano. “O cardeal Dom Odilo podia renovar as estruturas das paróquias ouvindo os fiéis de cada comunidade e promover tudo de uma forma mais participativa”, afirma.

O artigo 212 do Direito Canônico diz que “os leigos devem advertir seus pastores e tornar público suas opiniões” quando não são ouvidos por um bispo.
Os padres receberam a notícia das trocas no dia 7 na véspera dos seus aniversários de ordenação. Os fiéis recebem a notícia próximo às festas de natal.



Os jornalistas que quiserem mais informações ou entrevistas com pessoas ligadas às trocas, podem ligar ou enviar uma mensagem para:

Movimento Quero Nosso Pároco
divulgacaoigreja@gmail.com

Blog: http://queronossoparoco.blogspot.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Movimento-Quero-Nosso-P%C3%A1roco/787339577948639?ref=hl

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